Bem ou mal, tudo o que aqui está escrito é da autoria de naomedeemouvidos, salvo citações e/ou transcrições devidamente assinaladas, embora, alguns textos "EntreLetras" se baseiem em lendas ou histórias conhecidas.
Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Penso que devemos dar às coisas a importância exacta que merecem. Nem mais, nem menos. E tenho a certeza que, às vezes, muitas vezes, isso é mais fácil de dizer do que de fazer.
Quando criei este blog, não tinha qualquer outra intenção que não fosse escrever, escrever, escrever, sobre tudo o que me apetecesse, sem limites, a não ser os meus próprios: a minha vontade, a minha disposição, os meus resmungos, os meus arrebatamentos, os meus devaneios. Era - e é - uma brincadeira que me dava - e dá - muito prazer, embora, muitas vezes, me falte o tempo a mais que gostava de lhe dedicar. Mas, o blogue era exclusivamente meu, só meu, muito meu, de mim, para mim. É um pouco absurdo, eu sei, já que tudo o que vai parar a esse (já pouco) novo mundo virtual deixa de ser apenas nosso, mesmo que, eventualmente, a culpa não seja nossa. Não é bem o caso. O blogue é da minha responsabilidade e autoria, com a pequena-grande ajuda do Sapo e daquela menina que dá pelo nome de Gaffe; e, muito no início, tinha aberto o espaço de comentários porque eu nem sabia que o podia fechar. Mas deixou de ser só meu, a partir do momento em que passou a haver gente se que dá ao trabalho de me ler assiduamente. Pode ser só uma, podem ser duzentas, é indiferente para a grande consideração que me merecem. E, sobretudo, é pouco cordial - para não dizer algo idiota - não permitir comentários e, no entanto, ir por aí comentar noutros blogues, ainda que não o faça em muitos.
De modo que, agradeço aos que por cá se perdem, de quando em vez, e, por isso, se quiserem, digam - ou escrevam - coisas, muito, pouco ou nada, se, por acaso, cometerem a imprudência de me dar (poucos, pouquíssimos) ouvidos.
Há uma floresta isolada do mundo exterior, à margem de qualquer contacto com a civilização moderna. Os habitantes são contidos naquela ilha lacrada à custa de uma espécie de fábula do lobo mau: há criaturas perigosas, horrendas, que intentarão contra a vida daquele ou daquela que ousar transpor os limites da vila. Usam mantos vermelhos, cravejados de espinhos. O vermelho é a cor proibida, a cor do pecado, a marca dos indecorosos.
A farsa – que disso se trata –, montada por alguns dos habitantes mais velhos, resgatou a inocência e os bons costumes e suspendeu no tempo e no medo a vida de famílias eleitas, apostadas em eliminar todo Mal, abolir o pecado do seu mundo e criar, assim, uma sociedade perfeita, etérea e imaculada.
Este é o ponto de partida para uma (ir)realidade imaginária e imaginada na forma do filme de M. Night Shyamalan, "A Vila", que vi já lá vão alguns anos. E de que tenho vindo a lembrar-me recorrentemente a propósito dos vários intentos de embelezar as chagas que fazem parte da História que é de todos. Voltei a lembrar-me ao ler este texto da Sarin. Ainda não tinha chegado à censura do Dumbo, mas, é claro que (já) não espanta; o que não quer dizer que não se pasme com o absurdo.
Apagamos, corrigimos os contos infantis para eliminar a violência, o sexismo e mais outro tanto de interpretações instantâneas; deixamos de atirar o pau ao gato, ou de matar coelhos a uma cajadada, em nome da honra e defesa dos bichos e dos limites das figuras de estilo, pois que tudo passou a ser acéfalo e literal; não dizemos senhoras e senhores, meninos e meninas, homens e mulheres, em solidariedade piedosa com os que não sabem quem são, o que são, ao que vão e de onde vêm. Vamos, assim, desinfectando a fundo, frenéticos, alisando, escrupulosamente e sem admitir desvarios, todos os cantos obscuros ou incómodos da Humanidade lida, contada, cantada, vivida, sofrida, um lifting obtuso, prepotente e ignorante, tapando as marcas do tempo à espera de renascermos livres de todos os vícios, de todas as rugas, estéreis e despojados de identidade. Talvez, um dia, consigamos silenciar, disciplinadamente, o riso de todas as crianças, alinhá-las numa parada ordeira, global e harmoniosa, de cores suaves e adequadas, agitando flores de plástico, irrepreensíveis e precisamente cronometradas. Teremos, enfim, atingido a perfeição.
Idade - Tem dias.
Estado Civil - Muito bem casada.
Cor preferida - Cor de burro quando foge.
O meu maior feito - O meu filho.
O que sou - Devo-o aos meus pais, que me ensinaram o que realmente importa.
Irmãos - Uma, que vale por muitas, e um sobrinho lindo.
Importante na vida - Saber vivê-la, junto dos amigos e da família.
Imprescindível na bagagem de férias - Livros.
Saúde - Um bem precioso.
Dinheiro - Para tratar com respeito.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.