Bem ou mal, tudo o que aqui está escrito é da autoria de naomedeemouvidos, salvo citações e/ou transcrições devidamente assinaladas, embora, alguns textos "EntreLetras" se baseiem em lendas ou histórias conhecidas.
Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Não era noite, ainda, e a cidade seria apenas uma paragem a meio caminho, uma noite de repouso entre viagens para aliviar um acumulado de quilómetros. Parece estranho que, nos nossos dias, com tanta informação disponível para conhecer antes de ter conhecido, viver antes de ter vivido, desconhecêssemos quase tudo sobre Zadar. E, nesse desconhecimento improvável, quando a melodia chegou aos nossos ouvidos, precisámos de um momento de contemplação para compreender que era o mar que nos cantava. Uma melodia harmoniosa de sopros breves e roucos que o Mar Adriático ensaia, insaciável, entre os degraus de mármore branco, por onde se escondem as câmaras de ressonância, a orquestra viva e única, de onde emergem os gemidos cálidos do ar que o mar empurra suavemente.
As crianças deitam-se no chão para espreitar, pasmadas, a magia daquele colosso de arquitectura, um capricho de engenharia brilhante, conduzindo notas que nunca se cansam, pautas que nunca se esgotam.
Há um casal magnífico, com a filha, imagino, os dois vestidos de cores vibrantes como o compasso soprado das ondas. Ele leva um turbante exuberante, em tons de lilás e vermelho, o mesmo vermelho que ela exibe nas tranças que lhe caem pelas costas onde a bebé repousa num marsúpio verde, matizado, em contraste com o vestido branco, amoroso, de mangas curtas, de folhos. Ela de corpete preto, de renda, e saia comprida, azul do mar que admira, manchada de rosas a meia perna e um debrum laranja, a remate, radiante como um pôr-do-sol. Ele veste uma túnica igualmente negra e umas calças de estilo tribal, largas, de amplas cornucópias douradas sobre um fundo violeta-escuro. O sol aquece com ardor, e ela abre uma sombrinha, de rebordo picotado, espalhando a usual estampa colorida de elefantes da Índia, enquanto ele se apressa a ajudar, tomando-lha das mãos para abrigar a menina da inclemência do meio-dia. Param por um breve instante, para logo seguir caminho, os três, um caleidoscópio assimétrico, igualmente belo, dando cor e forma à melodia que o mar não se cansa de tocar.
Perdi as minhas fotografias de Zadar. Um imponderável mais que ponderado na era digital. Fica a alegre memória, mais que suficiente, e uma (outra) notícia que encontrei aqui.
Idade - Tem dias.
Estado Civil - Muito bem casada.
Cor preferida - Cor de burro quando foge.
O meu maior feito - O meu filho.
O que sou - Devo-o aos meus pais, que me ensinaram o que realmente importa.
Irmãos - Uma, que vale por muitas, e um sobrinho lindo.
Importante na vida - Saber vivê-la, junto dos amigos e da família.
Imprescindível na bagagem de férias - Livros.
Saúde - Um bem precioso.
Dinheiro - Para tratar com respeito.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.